Meus
amados irmãos e irmãs e cristo, mais uma vez nossa Igreja Católica se prepara
para vivenciar o tempo da Quaresma. Este termo deriva da palavra quarenta, isto
é, são quarenta dias de penitência nos preparando para a grande celebração da
Paixão e Ressurreição de Jesus. É, portanto um convite à conversão:
“Convertei-vos, portanto e voltai a Deus, afim de que vossos pecados sejam
perdoados” (At 3, 19).
A
Quaresma tem abertura na Quarta-feira de Cinzas, onde todos os cristãos
católicos são chamados a participar da Santa Missa na qual eles receberão as
cinzas na cabeça, em sinal de penitência e com isso eles são convidado a uma
profunda e radical conversão do coração, abolindo tudo o que não é do agrado de
Deus. É mais que um simples gesto externo, corporal, é atitude, é compromisso
consigo e com Deus. A esse respeito já dizia o profeta Joel: “Rasguem o coração
e não as roupas” (Jl 2, 13). Era costume o povo de Deus no Antigo Testamento
cobrir-se de cinzas e rasgar as roupas em sinal de penitencia. Jesus pede mais
do que isso de nós.
Durante
a Quaresma três caminhos de conversão são apontados pela Igreja: o caminho da
Misericórdia ou esmola, o caminho do Jejum e o caminho da Oração. No caminho da
Esmola, o cristão é chamado a agir de forma amorosa, com o coração na mão, em
favor daqueles que passam por necessidades, visando o bem-estar, a justiça e o
direito de todos. Nós que experimentamos a misericórdia de Deus somos chamados
a agir com misericórdia para com os demais. Afinal foi o próprio Jesus que
disse: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt
5, 7).
Outro
caminho é o Jejum. Este consiste em privar-se um pouco de bens materiais numa
atitude de solidariedade com aquele que tem sequer o pão de cada dia em sua
mesa, para sua família. É um gesto de solidariedade que ultrapassa o simples
não se alimentar ou se alimentar pouco. É renúncia, sobretudo, do nosso orgulho
e egoísmo em favor dos que nada têm. Já dizia o Profeta Isaías: “Sabeis qual é
o jejum que eu aprecio? Diz o Senhor: é quebrar as correntes da escravidão, e
dar liberdade aos oprimidos. É repartir o alimento com quem está com fome, é
dar abrigo a quem não tem onde morar, é vestir o maltrapilho e não desviar-se
dele” (Is 58, 6-7).
O
terceiro caminho é o da Oração. Somos chamados pela oração a tocar Deus com fé
para que sejamos transformados pela sua graça santificante. A oração abre-nos
para a escuta de sua voz que nos fala sempre. Pela oração podemos dizer: “Fala
Senhor, que teu servo escuta” (Sm 3, 10). O cristão deve sempre estar em
oração, mas neste tempo, deve intensificar cada vez mais. A oração abre-nos a
uma vida nova, vida esta que só em Deus podemos encontrar. Nossa oração deve ir
além de simples palavreados, ou mesmo uma tentativa de suborno para com Deus,
isto é, eu rezo e Deus é obrigado a me ouvir. Ela deve levar-nos a um encontro
com Deus que se doa gratuitamente.
Estes
três caminhos se vividos com intensidade pelos cristãos vai gerar outro
caminho, a fraternidade. Ser fraterno é ser irmão e irmã, é respeitar o outro e
lutar pelo seu bem-estar. É neste propósito que na Quaresma a Igreja lança
anualmente a Campanha da Fraternidade.
“A
Campanha da Fraternidade 2015 nos convida a refletir, meditar e rezar a relação
entre Igreja e sociedade. O tema é “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, e o lema
“Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). A Campanha vai ajudar-nos a “aprofundar, à
luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade,
propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro,
para a edificação do Reino de Deus”.
Sociedade
vem de socius e id. Id, idade, que diz da força, vigor; força e vigor do
Socius. Socius é o companheiro. A força que faz e deixa ser companheiro.
Companheiros, os que, unidos pela mesma força e vigor, formam um grupo. Os que
estão unidos pela mesma força e vigor formam a sociedade. As pessoas que têm
mesma pertença e buscam viver e conviver com um modo
próprio
de organização, formam uma sociedade. As pessoas também recriam a sociedade.
Porque formada por pessoas, a sociedade é viva, se transforma. Uma sociedade é
sociedade quando todos participam do conviver e do decidir e não permitem que
uma pessoa seja excluída. Para que a sociedade possa existir e persistir,
deixa-se guiar por valores fundamentais de Justiça,
de
Fraternidade, de Paz.
O
Concílio Ecumênico Vaticano II recordou que a Igreja é Reino de Deus, Povo de
Deus. “Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou na terra o Reino dos
céus, revelou-nos Seu mistério e, por Sua obediência, realizou a redenção. O
Reino de Deus, já presente em mistério pelo poder de Deus, cresce visivelmente
no mundo”. “O Senhor Jesus iniciou a sua Igreja, pregando a Boa-Nova, isto é, o
advento do Reino de Deus (...)." Este Reino manifestou-se lucidamente aos
homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo”. Com a vinda do Espírito
Santo, poderíamos dizer que se completaram os tempos.
Assim,
a Igreja é o novo Povo de Deus, a comunidade dos que creem. “Deus convocou e
constituiu a Igreja – Comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam seu
olhar a Jesus, autor da salvação e princípio da unidade”. Aqueles que têm seu
olhar fixo em Jesus vivem na sociedade. Eles compõem com outras pessoas a
sociedade. Os cristãos, como participantes da sociedade, levam seus valores e
compromissos, ajudam a construir uma sociedade justa, fraterna e de paz.
A
Igreja, as comunidades de fé, os cristãos, são ativos na sociedade. Eles, pelo
diálogo e pela caridade, cuidam das pessoas que são excluídas da sociedade. Ao
mesmo tempo, participam ativamente das discussões e proposições que visam o bem
de todos. Como nos diz o Papa Francisco: “prefiro uma Igreja acidentada, ferida
e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento
e comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja
preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e
procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a
nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz
e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os
acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar,
espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma
falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos
hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão
faminta, e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’” (Mc
6,37).
A
Campanha da Fraternidade deste ano será uma oportunidade de retomarmos os
ensinamentos do Concílio Vaticano II. Ensinamentos que nos levam a ser uma
Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos
que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por
isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da
sociedade estejam a serviço de todos. Na sociedade, a Igreja, as comunidades
desejam seguir a Jesus: vim “para servir e dar a vida em resgate por muitos”
(Mc 10,45).”
Vivamos
com intensidade esta Quaresma no jejum, na oração e com misericórdia e sejamos
fraternos, isto é, irmãos e irmãs a serviço da vida, saúde e bem-estar para
todos.
TEXTOS
PARA MEDITAÇÃO: Mt 5, 1-11; Jl 2, 12-17; Is 58, 1-12; Mt 6, 1-18; Mt 5, 1-11;
At 3,11-24. Mc 10, 41-45.
Paróquia Nossa
senhora do Rosário – General Sampaio, Ce.