Doutor da
Igreja (em latim: doctor - "professor"; de docere -
"ensinar") é um título conferido por uma variedade de igrejas cristãs a indivíduos de reconhecida importância, particularmente nos
campos da teologia ou doutrina
católica.
Doutor da Igreja é
aquele cristão ou aquela cristã que se distinguiu por notório saber teológico
em qualquer época da história. O conceito de Doutor da Igreja difere do de
Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a
reta formulação dos artigos da fé até o século VII no Ocidente e até o século
VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que são Doutores. Assim os quatro
maiores Padres latinos (S. Ambrósio, S. Agostinho, S. Jerônimo e S. Gregório
Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório
de Nazianzo e S. João Crisóstomo).
A inscrição de Sta.
Teresinha de Lisieux entre os Doutores da Igreja despertou a atenção do público
para o conceito de tal título. Que significa ser “Doutor(a) da Igreja”? – Eis o
que as paginas subsequentes procurarão dizer.
1. Doutores da Igreja: quem
são?
Os Doutores da Igreja
são homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua
fé, e principalmente pelo eminente saber teológico, atestado por escritos
vários, foram honrados com tal título por desígnio da Igreja.
Os Doutores se
assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem, corno se vera a
seguir.
Padres da Igreja são
aqueles cristãos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram
eficazmente para a reta formulação das verdades da fé (SS. Trindade,
Encarnação do Verbo, Igreja, Sacramentos. ..) nos tempos dos grandes debates e
heresias. O seu período se encerra em 604 (com a morte de S. Gregório Magno) no
Ocidente e em 749 (com a morte de S. João Damasceno) no Oriente.
Para que alguém seja
considerado Padre da Igreja, requer-se antigüidade (até os séculos VII/VIII),
ao passo que isto não ocorre com um Doutor.
Para os Padres da
Igreja, basta o reconhecimento concreto, não explicitado, da Igreja, ao passo
que para os Doutores se requer uma proclamação explicita feita por um Papa ou
por um Concílio.
Para os Padres, não se
requer um saber extraordinário, ao passo que para um Doutor se exige um saber
de grande vulto.
Por conseguinte, o que
caracteriza um Padre da Igreja é principalmente a sua antiguidade; ao
contrário, o Doutor se identifica precípuamente pelo seu saber notório. Isto,
porém, não impede que haja Padres da Igreja que também são Doutores, como se
verifica, por exemplo, no caso dos maiores Padres do Ocidente (S. Ambrósio, S.
Agostinho, S. Jerônimo, S. Gregório Magno) e no dos quatro majores Padres do
Oriente (S. Atanásio, S. Basílio, S. Gregório de Nazianzo e S. João
Crisóstomo). São os oito grandes Doutores da Igreja.
Esta terminologia,
precisa como é, não era usual na antigüidade, pois a palavra doutor tinha o sentido
de doctor, docente, mestre, de modo que eram doutores antigamente aqueles que
conheciam bem os artigos da fé e os sabiam explanar com clareza. São Paulo
parece aludir a este sentido amplo de mestre, quando diz que o Senhor “constituiu
apóstolos, profetas, evangelistas, pastores em sua Igreja” (cf. Ef 4,11; ver
2Cor 12,28; At 13,1).
Com o tempo, o titulo de
Doutor foi-se tornando mais especifico; a princípio era atribuído somente a
Padres da Igreja, isto é, aqueles Padres que sobressaíram por seu brilho
doutrinário.
Interessante é notar que
nenhum mártir foi proclamado doutor da Igreja (tal poderia ter sido o caso de
S. Cipriano de Cartago, vigoroso defensor da unidade da Igreja),… e não o foi
porque o martírio é considerado o maior título de glória, que não necessita de
algum complemento para enaltecer a figura do cristão. No século XVI a Igreja
abriu mão da nota da antigüidade e passou a designar como Doutores figuras de
épocas mais recentes. A primeira proclamação neste sentido foi feita pelo Papa
S. Pio V, aos 11/4/1567, em favor de S. Tomas de Aquino (+ 1274). Outras proclamações
ocorreram posteriormente, como se depreende da lista publicada a seguir.
Além dos Doutores
reconhecidos na Igreja inteira, há os que possuem tal título apenas em determinado
país ou ambiente. Tal é o caso de S. Leandro de Sevilha (+ 604), doutor na
Espanha, e S. Próspero da Aquitânia (+ após 455), Doutor entre os Cônegos
Regulares do Latrão.
2. Os Doutores da Igreja
Hilano de
Poitiers Bispo 367 França – A Trindade Comentário aos Salmos
Comentário a S. Mateus
Atanásio Bispo 373 Egito
– A Encarnação do Verbo Apologia contra os Arianos
Efrém Diácono
378 Síria – Comentários a Bíblia Poemas de Nísibe.
Basílio Bispo 379
Turquia – Tratado do Espírito Santo
Cirílio de Bispo 386
Palestina – Catequeses Jerusalém Gregório Nazianzeno Bispo 390
Turquia – Homilias. Cartas.Versos.
Ambrósio Bispo 397
Itália Comentário do Evangelho e Lucas Tratado da Virgindade.
João Crisóstomo Bispo
407 Turquia 0 Sacerdócio. Homilias. Cartas.
Jerônimo, Monge 419
lugoslávia Vulgata (Tradução Latina da Bíblia)
Agostinho Bispo 430
Argélia Confissões. Cidade de Deus. A Trindade. Cartas.
Cirilo de Alexandria,
Bispo 444 Egito Comentário de S. João. Contra Nestório.
Pedro Crisólogo, Bispo
450 Itália – Homilias.
Leão Magno, Papa
461 Itália – Homilias. Cartas.
Gregório Magno, Papa 604
Itália Moral. Diálogos.
Isidoro de Sevila Bispo
636 Espanha – Etimologias
Beda Venerável, O Monge
735 Inglaterra – História Eclesiástica dos Anglos.
João Damasceno, Monge
749 Síria Contra os Iconoclastas.
Pedro Damião, Cardeal
1072 Itália O Livro de Sodoma. Vida de S. Romualdo. Sermões.
Anselmo, Bispo
1109 Inglaterra Monologion. Proslogion. A Verdade. Cartas.
Bernardo, Abade
1153 França A Graça. Para Eugênio III Sermões sobre o Cântico dos Cânticos.
Antônio de Pádua, Frade
1231 Portugal. Sermões
Tomás de Aquino, Frade
1274 Itália.
Suma Teológica.
Contra Gentiles.Com. de
Pedro Lombardo.
Boaventura, Cardeal 1274
Itália. Apologia dos pobres. Itinerário do Espírito a Deus.
Alberto Magno, Bispo
1280 Alemanha. 38 volumes sobre ciência, teologia, filosofia, Bíblia.
Catarina de Sena,
Religiosa 1380 Itália. Diálogo. Cartas.
Teresa de Ávila, Monja
1582 Espanha Autobiografia. Caminho Da Perfeição. Castelo Interior ou As
Moradas
João da Cruz, Frade 1591
Espanha. Cântico Espiritual Subida da Carmelo Noite Obscura.
Pedro Canísio, Padre
1597 Alemanha Catecismo.
Lourenço de Brindisi
Frade 1619 Itália Comentário do Gênesis. Sermões.
Roberto Belarmino
Cardeal 1621Itália. Controvérsias.
Francisco De Sales,
Bispo 1622 França. Introdução à vida devota. Tratado do amor de Deus
Afonso de Bispo 1787
Itália Teologia Moral.Glórias de Maria
Ligório Maria. Prática
de amar a Jesus Cristo. A oração. S. Teresa de Monja 1897 França Autobiografia.
(Lisieux)
Alguns Doutores receberam um
aposto que caracteriza sua personalidade. Assim:
S. Anselmo de Cantuária,
Doutor Mariano (devoto de Maria SS.)
S. Bernardo de Claraval,
Doutor Melífluo (dotado de palavra doce como o mel)
S. Antônio de Pádua,
Doutor Evangélico (exímio pregador do Evangelho)
S. Tomás de Aquino,
Doutor Angélico, Comum
S. Boaventura, Doutor
Seráfico
S. Alberto Magno, Doutor
Universal (grande erudito também nas ciências naturais de sua época)
S. Afonso Maria de
Ligório, Doutor Zelosíssimo (sábio moralista)
Santa Teresinha se
distinguiu no campo da Espiritualidade ou da Ascética e Mística. Desenvolveu as
palavras do Senhor Jesus que convidam os fiéis a se tornar crianças
espiritualmente (cf. Mt 18,3s) vivendo como filhos bem-amados na presença de Deus.
A monja carmelita deduziu profundas conclusões dos dizeres do Senhor, que ela
explanou com simplicidade na sua autobiografia intitulada “História de uma
Alma” e em escritos paralelos, inclusive poesias. Essas obras fizeram enorme
bem à Igreja, o que justifica plenamente o título de Doutora que lhe foi
conferido pelo Papa João Paulo II aos 19/10/97.
Fonte: http://cleofas.com.br/os-doutores-da-igreja-eb/
Revista: “PERGUNTE E
RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 429 – Ano : 1998 – p. 87